Ano novo, vida nova! Temos agora um ano inteirinho pela frente para aproveitar e fazer tudo aquilo que quisermos! Mas como garantir que conseguiremos colocar nossos planos em prática? Muitas vezes estabelecemos metas, mas a falta de tempo nos impede de atingi-las. O corre-corre do dia a dia para muitas de nós é intenso, e a impressão que fica é a de que estamos todas sem tempo. Infelizmente, não é somente uma ilusão. A falta de tempo está mesmo atingindo nossa geração em cheio. As demandas da vida moderna foram se acumulando e parecem só aumentar. Com isso, o tempo vem se tornando um privilégio, um bem tão escasso que vem passando a ser visto como artigo de luxo. Como foi que chegamos neste ponto?

Em um passado não muito distante, há trinta ou quarenta anos, sabemos que a vida tinha outro ritmo. Tudo acontecia com mais lentidão. Uma mensagem que hoje enviamos instantaneamente para o outro lado do planeta e que em segundos podemos receber a resposta, poderia levar meses para chegar ao seu destinatário, e vários outros meses até que houvesse um retorno. As pessoas dispunham de mais tempo disponível não só para os afazeres cotidianos, mas também para processar internamente os acontecimentos, fossem eles de natureza pessoal ou em sociedade. As notícias que chegavam eram poucas e esparsas, num cenário muito diferente do atual, onde no intervalo de um comercial na televisão, podemos ter acesso a milhares de notícias do Brasil e do mundo.

Diante desses fatos, fica fácil atribuir o problema da falta de tempo e de nossa aceleração interna à invasão da tecnologia em nossas vidas – o que é um paradoxo. Afinal, a tecnologia nos serve em diversos casos para facilitar a nossa vida e nos poupar de perder tempo (com filas de banco, correios etc). Quem afinal é o vilão da falta de tempo e da aceleração que vivemos atualmente? Por que estamos tão cansadas? E será que existem alternativas realistas para mudar essa situação? Este é o tema do livro “Sem tempo para nada”, de Luís Mauro Sá Martino. Doutor em Ciências Socias pela PUC-SP, Sá Martino foi pesquisador-bolsista na Universidade de East Anglia, na Inglaterra e atualmente atua como professor do Programa de pós-graduação em Comunicação da Faculdade Cásper Líbero e em cursos de especialização EAD da PUC-RS, USP entre outras.

Em seu livro, ele nos faz entender como passamos a entender o tempo como entendemos hoje, nos levando em uma viagem histórica lá atrás, no tempo anterior aos relógios e outros medidores de tempo, época em que as pessoas se guiavam pela luz do sol e pela escuridão. Ele conta que desde que abandonamos esta prática, passamos a viver de forma um pouco mais forçada e artificial, já que quem abandonou a experiência natural do tempo fomos nós como sociedade – e não nossos corpos, que continuam funcionando da mesma forma que sempre funcionaram, liberando certos hormônios em certos horários, e precisando da luz solar e da escuridão para se regular.

Dali para frente, passamos a dividir o tempo em períodos, que inicialmente eram regidos pelas colheitas (logo, ainda trabalhando no tempo da natureza) então naturalmente eram mais longos (primavera, verão, outono e inverno; tempo de chuvas e tempo de secas etc) e aos poucos passaram a obedecer medidas artificiais de tempo como as semanas e meses, o sino da igreja, o dia de trabalho, a hora trabalhada marcada pelo “ponto”, chegando a se transformar nos poucos minutos de um vídeo em plataformas como YouTube ou mesmo poucos segundos que duram um comercial na televisão. Quanto mais distantes ficamos do tempo regido pela natureza e quanto mais partimos nosso tempo em unidades pequenas, mais temos a impressão de que o tempo está acelerado. Se você passar duas horas lendo um livro terá a impressão de que o tempo passou mais lentamente do que alguém que passou duas horas pulando de vídeo em vídeo no celular. A conclusão, segundo o autor, é que não é só a rapidez da tecnologia que altera nossa percepção de tempo, mas o modo como nos organizamos e a quantidade de vezes que decidimos “partir” nosso tempo.

Já o cansaço típico dos tempos atuais seria por conta do capitalismo e dos tempos do mercado. Além de termos deixado o estilo de vida patriarcal, no qual as tarefas de homens e mulheres eram bem distintas e demarcadas para substituí-lo por um modelo no qual todos devem fazer tudo (o que gera cobrança, ansiedade e a eterna sensação de não estar fazendo o suficiente), ainda somos regidos pelos tempos das empresas, que na eterna busca de lucros, querem produzir cada vez mais. Produzindo mais, precisam escoar mais. Logo, precisam que as pessoas comprem seus produtos ou consumam seus serviços. Para que a roda do consumo não pare de girar, muitas vezes as empresas trabalham não só produzindo seus produtos, mas também fabricando insatisfações nos potenciais clientes. Afinal, pessoas felizes consomem menos. A produção das empresas foi parando de ser voltada para a satisfação de um desejo, mas para a criação de novos. Os preços sobrem, as demandas aumentam e nem sempre os salários acompanham. O resultado? Precisamos correr cada vez mais para nos mantermos no mesmo lugar. Não é para menos que estamos tão esgotados.

                  As soluções para esta situação? O autor de “Sem tempo para nada” apresenta nove propostas para cuidarmos do tempo, e assim tomarmos as rédeas de nossas vidas com calma e tranquilidade. Ele sugere:

  • Usar com sabedoria aquilo que nos sobra como tempo livre. Já que não há como assumir totalmente o controle de nosso tempo, aquela parte de que somos donos, devemos usar com consciência.
  • Recuperar a ordem de importância das coisas nos lembrando de que quase nada é tão urgente quanto pode parecer num primeiro momento. Tratar como urgência apenas aquilo que de fato, não puder ser adiado.
  • Deixar de glamourizar o excesso de trabalho. Até porque, estresse contínuo não significa produtividade.
  • Evitar enviar mensagens em períodos de descanso, nosso e dos outros, para que a prática se torne hábito na sociedade como um todo. Tão importante quanto nossos períodos conectados, são nossos momentos desconectados.
  • Respeitar dos ciclos do corpo, lembrando que nem todo o dinheiro do mundo poderá recuperar uma saúde que foi perdida na ânsia de ganhá-lo.
  • Respeitar os momentos de descanso, fazendo questão de incluir em nosso dia a dia períodos para ócio, e períodos para diversão.
  • Passar 1 minuto concentrado é melhor que 1 hora disperso. Uma atividade que leva uma hora para ser desempenhada, quando constantemente interrompida, pode acabar levando o dia todo.
  • Valorizar o tempo livre que temos escolhendo bem como vamos utilizá-lo.
  • Lembrar que desacelerar não é parar e nem demorar. Mudar o ritmo não é deixar de fazer.

 Ele conclui sua obra nos perguntando por que afinal estamos com tanta pressa? Desacelerar é respeitar os ritmos do nosso próprio corpo e dos outros. E se conseguirmos fazer por nós, estaremos fazendo um bem para toda a sociedade!

 Um ótimo início de 2023 para todas vocês!!!