Quando o ano de 2020 começou, quem poderia prever o que estava por vir? Ninguém imaginava que de uma hora para outra um novo vírus se espalharia pelo mundo todo e se tornaria foco de nossa atenção e preocupação. Com a mesma rapidez que o inimigo invisível foi ganhando espaço, nossa vida foi tendo que mudar. No início, o cenário totalmente novo trouxe incerteza, e com ela vem o medo, que nos paralisa. Em seguida, as perguntas: do que se trata essa tal Covid-19? Qual a real gravidade? Como nos proteger e proteger aqueles que amamos? Em resposta a tantas perguntas e seguindo o mesmo ritmo de contágio do novo Coronavírus, viralizaram também vídeos de médicos, infectologistas, governantes, personalidades da mídia, jornalistas e até astrólogos. As informações eram desencontradas e nos chegavam como uma enxurrada de explicações e conselhos muitas vezes contraditórios.  Em meio ao caos, fizemos o que nos é instintivo: tentamos nos proteger. Ficamos em casa o máximo que pudemos. Passamos a fazer home office, e a fazer nossas unhas, nossa comida (para muitos que não faziam como rotina), ensinar tarefas escolares para as crianças, acompanhar as aulas da garotada pela internet, além de muitas outras tarefas de casa, como limpeza, organização, lavanderia… Fizemos nossas compras online, assim como assistimos nossas aulas, visitamos nossos médicos e nos reunimos com nossos amigos, tudo muitas vezes sem sair do sofá da sala. Viramos professores de nossos filhos enquanto acumulamos diversas outras funções de pessoas com quem temporariamente não podíamos mais conviver. Enquanto isso, continuamos atentos às notícias, esperando ansiosos pelo anúncio de uma vacina, de um remédio e claro, pela notícia de que a pandemia estaria perdendo força. Os meses foram passando e percebendo que a situação se estenderia por algum tempo, fizemos o que o ser humano faz como ninguém: nos adaptamos. Por um tempo, era como se a vida tivesse virado de cabeça para baixo. Atividades corriqueiras como ir ao mercado se transformaram em verdadeiras operações de guerra. Uma simples caminhada pelo bairro representava um risco. Tudo parecia perigoso. Mas era preciso seguir em frente. Para não parar, o mundo precisou mudar. Munidas de máscaras, álcool gel e muita coragem, aos poucos vamos retomando atividades que por um tempo tivemos de abandonar. Neste momento, começa-se a ouvir a expressão “o novo normal”. Que muitos andam usando para descrever a realidade de todas as medidas de segurança que passamos a ter que tomar, como lavar as mãos com maior frequência, deixar os sapatos fora de casa e observar o distanciamento social. Claramente, o mundo mudou, e quando olhamos para tudo isso, fica parecendo que ele mudou para pior. Mas será? Gosto de pensar no lado bom de tudo isso que está nos acontecendo. Porque se olharmos atentamente conseguiremos ver que tudo isso que está acontecendo tem também um lado muito positivo. Fomos forçados a desacelerar, a parar e repensar nossas rotinas, nossos hábitos, nosso consumo. Passamos mais tempo com nossos filhos e com aqueles que nos são mais próximos de quem, muitas vezes por conta das rotinas atribuladas, acabávamos ficando distantes. Com o mundo em ritmo mais lento, aviões, carros e caminhões já não circularam tanto. A natureza agradeceu e rapidamente deu sinais de que esta pausa era necessária. Enquanto observamos tudo se tornando mais exuberante, estamos repensando aspectos práticos e filosóficos de nossa vida. E vemos que somos capazes de lutar com um inimigo minúsculo e ao mesmo tempo fazer uma enorme mudança interior. A pandemia ainda não acabou mas já sabemos que não durará para sempre. Assim é o mal diante do bem. Nenhuma escuridão resiste quando a luz decide brilhar. Que continuemos a transformar esses dias atípicos em oportunidades para nos tornarmos pessoas melhores e mais positivas. E que quando falarmos no “novo normal”, não estejamos pensando em medidas de higiene e isolamento, mas sim nas qualidades que adquirimos com este desafio que fomos forçadas a enfrentar, e em como isso refletirá no mundo pós-pandemia. Um brinde a esta nova realidade, que tem tudo para ser muito melhor do que a que conhecíamos.   

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