Máscara, álcool gel, distanciamento social, quarentena. Nada disso fazia parte de nosso repertório nos primeiros meses de 2020, quanto faz parte hoje. De repente, tudo mudou. O furacão chamado Covid-19 chegou e fomos obrigadas a nos adaptar. A partir do momento em que o novo coronavírus começou a se espalhar, nossos dias mudaram, nossas rotinas se alteraram e algumas preocupações que nunca havíamos tido antes passaram a nos rodear. Lidar com situações desafiadoras não é algo novo para ninguém. Tampouco é a tomada de decisões importantes sob pressão. Por que então tantas vezes nos sentimos perdidas diante do que está acontecendo? O caso é que a pandemia é algo sem precedentes para nossa geração. Por ser assim, nos falta repertório pessoal para lidar com o problema. Você não tem como lembrar do que fez quando passou por isso anteriormente porque, felizmente, nunca havia passado. Também ficamos impedidos de nos valer da experiência dos mais velhos, aqueles que na maior parte dos casos já “passaram por isso antes”, como costumamos fazer em outras áreas importantes da vida (na criação de filhos, por exemplo) uma vez que eles também não haviam passado por nada parecido. Os médicos, que costumam nos passar segurança diante de preocupações com a saúde, também foram pegos de surpresa e continuam com muitos questionamentos e opiniões divergentes. As dúvidas são muitas e em certos momentos, as respostas parecem escassas. Ao ligar a televisão ou abrir um jornal, somos bombardeadas com uma quantidade imensa de notícias que se excedem em descrever a situação mas são pobres em respostas e soluções. Num momento de tantas incertezas, temos que ser fortes, seguir em frente e tomar decisões que muitas vezes afetarão não só a nós mesmas mas a nossas famílias. Será que existe uma forma de manter o equilíbrio num momento como este?
Felizmente, a resposta é sim. A pandemia pode ser novidade mas a psique humana não é. Se o coronavírus é novo, as técnicas para nos manter equilibradas mentalmente são milenares. Quando o mundo exterior se torna uma bagunça, o que podemos fazer é manter nosso interior bem organizado. E para isso, dependemos apenas de nós mesmas e de nosso desejo de atravessarmos esta tempestade fortes e serenas. Para nos dar ideias sobre formas de combater a insegurança e ansiedade nesta fase, conversamos com a psicóloga Marina Costa. Marina é psicóloga clínica comportamental, terapeuta de EMDR e Brainspotting e tem 15 anos de experiência na prática clínica em atendimento de crianças, adolescentes e adultos.


MULHERES EM ALPHA: A pandemia é algo sem precedentes para nossa geração então não podemos nos valer da experiência dos mais velhos nem de nossas próprias, como costumamos fazer em outras áreas da vida. Como combater a insegurança ao tomar decisões nesta fase? 

MARINA COSTA: De fato, estamos vivenciando um momento absolutamente único, que gera incertezas, inseguranças e medos nunca antes experimentados. Para lidar com essa explosão de novos sentimentos, sugiro, primeiramente, aceitá-los. Somos naturalmente resistentes a mudanças que não estão dentro do nosso controle e isso gera muito sofrimento. Ao entrar em processo de negação, com pensamentos ruminantes e obsessivos como “Por que aconteceu comigo? Por que essa pandemia tinha que começar logo agora? Perdi a viagem com a qual tanto sonhei…”, vamos entrando num looping de negatividade que faz muito mal para o nosso corpo e nossa mente. Para evitar que isso aconteça, devemos buscar ter um olhar mais positivo sobre tudo o que está a nossa volta. Em outras palavras, é dar mais valor ao que você tem, do que ao que você perdeu. É se reinventar, se adaptar e ser resiliente. De todas as situações conseguimos tirar algo bom. É o famoso fazer do limão bem azedo que a vida nos dá uma limonada bem saborosa. Como fazer essa limonada? Focando no que funciona, no que lhe faz bem. Admirando o belo, desenvolvendo a gratidão, meditando, fazendo atividade física, se nutrindo de forma adequada. Outras ideias são fazer uma doação, fazer o bem a alguém que você sabe que está precisando, ou simplesmente sendo gentil. Essas são excelentes estratégias para amenizar a angústia e a dor que o isolamento nos traz.


MULHERES EM ALPHA: De que forma as medidas de distanciamento social podem estar impactando o nosso bem estar? E quanto ao de nossos filhos?

MARINA COSTA: Somos seres naturalmente sociáveis. Isso significa que ninguém vive bem passando 100% do tempo sozinho. Como já dizia Aristóteles: “O homem é um ser social porque é um animal e precisa dos outros membros da sua espécie “. Quando estamos juntos, nos sentimos amados, protegidos, seguros e valorizados. Quando estamos sozinhos nos tornamos tristes. Para vocês terem uma ideia do impacto desse confinamento para a saúde mental, houve um aumento de cerca de 30% nas vendas de antidepressivos. Um aumento significativo também é com relação ao uso de bebidas alcoólicas, que cresceu cerca de 20%. São formas que as pessoas estão buscando de alívio para a dor emocional. Com relação às crianças, existe uma preocupação também, com essa falta de relacionamento social pois, muitas, recorrem ao uso das telas para interagirem com outras crianças ou como forma de lazer. O tempo excessivo de telas causa consequências como: irritabilidade, alteração no sono e apetite. Felizmente, esta época da pandemia não está sendo só de prejuízos para as crianças. Se por um lado elas sofrem com as escolas fechadas e suas atividades extra curriculares suspensas, por outro, crianças que não tinham a oportunidade de conviver com mais frequência com os pais, estão podendo desfrutar dessa convivência que é extremamente valiosa para os
nossos pequenos. Alguns adultos, talvez, se lembrem dessa pandemia com tristeza mas muitas crianças poderão se lembrar com amor pois foi uma oportunidade única de ter
a presença dos pais de uma maneira tão constante. É fácil esquecer dos brinquedos que tivemos na nossa infância, mas nunca esquecemos das brincadeiras com nossos
pais, dos lanches em família, da cabana no meio da sala de estar, do pique esconde no jardim…

MULHERES EM ALPHA: É possível manter o equilíbrio mental em tempos tão esquisitos? De que maneira?

MARINA COSTA: É possível sim, como eu disse anteriormente, fazendo do limão uma limonada. Aproveite este momento para resolver as pendências, organizar a casa, aprender a cozinhar (ou refinar esse repertório para quem já tem essa habilidade), fazer atividade física, brincar com os filhos, fazer cursos pela internet (há muito conteúdo de qualidade sendo disponibilizado gratuitamente). Você também pode aprender a meditar, falar com amigos via zoom… Já pensaram se essa pandemia tivesse ocorrido em meados dos anos 90? Não teríamos a tecnologia a nosso favor, já que hoje podemos fazer quase tudo utilizando a internet. Atendimentos psicológicos não eram tão comuns na modalidade online, por exemplo. Agora, com a pandemia, estamos nos reinventando e ficando surpresos com a eficácia do tratamento online. Alguns pacientes se sentem mais à vontade na tela, se abrindo mais, e consequentemente tendo mais êxito em seus tratamentos. É um exemplo de coisas boas que surgem em tempos diferentes.


MULHERES EM ALPHA: Há algo que possamos fazer para nos “blindar” de tudo o que está acontecendo? Ficar sem assistir aos jornais, por exemplo, é uma estratégia boa ou ruim?

MARINA COSTA: Sim, recomendo a todos os meus pacientes que não acessem os telejornais. Eles vendem notícias ruins e essas informações contaminam nossa mente. Quantas vezes, após assistir a um noticiário, nos sentimos angustiados e tristes? Existe um site chamado “só notícia boa”, que é uma ótima oportunidade de se manter informado com notícias que nos preenchem e nos motivam a nos tornarmos pessoas melhores.

MULHERES EM ALPHA: Qual conselho você daria para a mulher que é mãe e está tendo que balancear os filhos, o marido e o trabalho nesta fase?


MARINA COSTA: Da mesma forma que momentos especiais e felizes passam, essa pandemia também vai passar. Quando vier um pensamento ruim à mente traga três pensamentos bons para contrabalancear. Tentem manter a rotina diária que tinham antes da pandemia e quando um dia estiver mais difícil do que o esperado, se permita tomar um banho demorado, passe aquele perfume que lhe traz boas lembranças do passado… Para as mulheres, sugiro que passem um batom, uma maquiagem busquem sentir -se bem como vocês mesmas praticando o autocuidado. Observem os detalhes lindos da natureza, respirem fundo, usem o aplicativo insight timer para meditar ou fazer cursos e
lembrem-se: os filhos são espelhos dos pais, eles copiam nosso comportamento. Se você não estiver em um bom dia para ser empático com seu filhos, se estiver mais
irritadiço, busque um local da casa (gosto do banheiro pois dá para trancar a porta) para se auto regular emocionalmente, para só  depois se posicionar com relação ao
comportamento da criança. Pais tranquilos, filhos tranquilos. Se os prejuízos comportamentais estiverem muito intensos, sugiro buscar a ajuda de um profissional
qualificado para lhe ajudar. E volto a frisar: Vai passar!!

 Marina Costa (CRP 11322) tem 38 anos e mora em Brasília com seu marido e seus três filhos, e atende crianças, adolescentes e adultos em sua clínica há mais de quinze anos.

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